 
          Ela falava consigo mesma, distraída que estava, mas para Leôncio, que
        
        
          tudo ouviu atentamente, suas palavras funcionaram como uma deixa. Ele se
        
        
          abaixou rapidamente, pegou a chave do chão e a estendeu à sua dona.
        
        
          Antes que ela dissesse qualquer coisa ele falou:
        
        
          – Pode agradecer com uma contradança, senhorita.
        
        
          – Marina, meu nome é Marina. Sim, vamos dançar.
        
        
          Dançaram aquela contradança e mais outra e outras mais. Dançaram o
        
        
          resto da noite, até o baile terminar.
        
        
          Parecia que os dois eram velhos parceiros de dança, tão leves e tão
        
        
          graciosos eram seus passos.
        
        
          Leôncio se sentia completamente enlevado, como se
        
        
          o encontro com a bela
        
        
          dançarina f
        
        
          osse um presente enviado pelo céu. Presente que ele nem merecia,
        
        
          chegou a pensar.
        
        
          Agradeceu à providência ter permanecido na cidade. Já nem queria ir
        
        
          embora no dia seguinte.
        
        
          Em nenhum momento Marina fez menção de o deixar para encontrar
        
        
          amigos ou conhecidos no salão.
        
        
          Ele tinha a sensação de que ela fora ao baile só por ele, de que era com
        
        
          ele que queria dançar a noite toda.
        
        
          Não teria namorado noivo, marido?
        
        
          Muitas paixões chegam enquanto se dança.
        
        
          Leôncio apaixonou-se por Marina ao dançar com ela.
        
        
          Então, a orquestra tocou a música de encerramento e o baile acabou, já
        
        
          era alta madrugada.
        
        
          Leôncio insistiu em acompanhar a moça até sua casa. Ela aceitou a
        
        
          companhia, era perto, iriam a pé.
        
        
          Estava frio lá fora, uma fina garoa molhava as calçadas. Na portaria do
        
        
          clube Leôncio pegou a capa que tinha deixado ali guardada. Ele tinha uma capa
        
        
          da qual nunca se separava.
        
        
          Viaja a muitos lugares diferentes, enfrentando os climas mais
        
        
          imprevisíveis. A capa era sempre o abrigo garantido.
        
        
          Leôncio ofereceu a capa à companheira para que se protegesse do mau
        
        
          tempo.
        
        
          – Para você não se resfriar, faz frio.