 
          Estranhamente ninguém sabia dizer quem era ela. Numa cidade pequena
        
        
          todo mundo se conhece, todos sabem da vida de todos, todos se controlam,
        
        
          vigiam-se uns aos outros.
        
        
          A fofoca é cultivada como se fosse uma obrigação, como se
        
        
          representasse um dever cívico.
        
        
          Uma linda moça da cidade vai ao baile desacompanhada, dança a noite
        
        
          toda com um desconhecido e ninguém sabe quem ela é?
        
        
          Ele continuou perguntando por sua dançarina. Foi aos armazéns e lojas
        
        
          que tinha como clientes, descrevia a moça, dizia seu nome e ninguém sabia dizer
        
        
          quem era a donzela.
        
        
          – Aquela com quem dancei ontem a noite toda.
        
        
          Ninguém tinha visto.
        
        
          Desanimado, voltou para sua hospedagem.
        
        
          Então um velho se apresentou, era um empregado do hotel, empregado
        
        
          que Leôncio nunca tinha visto, nem nessa nem em outras estadas na cidade.
        
        
          Era alto, magro e de uma palidez desconcertante.
        
        
          O velho empregado do hotel lhe disse:
        
        
          – Moço, conheci uma tal Marina igualzinha à sua.
        
        
          E completou, baixando a voz respeitosamente:
        
        
          – Mas ela está morta, morreu há muito tempo.
        
        
          Disse que a moça pereceu num desastre de carro, quando estava fugindo
        
        
          para se casar com um caixeiro-viajante, casamento que a família dela não
        
        
          queria, de jeito nenhum.
        
        
          Leôncio ficou chocado com a história, que absurdo! Imaginar que se
        
        
          tratava da mesma pessoa!
        
        
          – Nem pensar. Eu a tive nos braços a noite toda!
        
        
          Mas o velho funcionário insistiu:
        
        
          – No túmulo dela tem a fotografia, quer ver?
        
        
          – Não pode ser, é um disparate, mas quero ver.
        
        
          O velho não se fez de rogado.
        
        
          Em poucos minutos estavam os dois subindo a ladeira que levava ao
        
        
          afastado cemitério da cidade.
        
        
          Com a cabeça girando, cheio de dúvidas e incertezas, Leôncio se
        
        
          perguntava:
        
        
          – O que é que eu estou fazendo aqui?