 
          Passeio de trem não planejado
        
        
          E
        
        
          mbora seja muito jovem ainda, tenho muitas atividades, o que às
        
        
          vezes provoca uma demora maior para visitar minha avó. Mas, numa noite dessas,
        
        
          a saudade já estava grande demais e fomos à sua casa.
        
        
          Estávamos na sala com a TV ligada e de repente, uma propaganda de
        
        
          bolsas femininas chamou sua atenção. Ela foi para o quarto e voltou com uma
        
        
          bolsinha cor de rosa, meio brilhante, com um fecho de botão, forrada por dentro.
        
        
          Muito diferente dos modelos atuais, mas essa tinha uma história!
        
        
          Ela contou que quando tinha treze anos (pelas minhas contas isso
        
        
          deve ter sido em meados de 1946), precisou levar uma cobrança para sua irmã
        
        
          mais velha, que morava em São Paulo. E lá foi dona Elza, carregando sua bolsinha
        
        
          pegar o trem.
        
        
          Naquela época, o trem era de madeira e havia um vão entre a janela
        
        
          e o banco, bem onde a bolsinha caiu, num momento de distração. Sem conseguir
        
        
          resgatá-la, minha avó chamou o segurança que pediu para ela se acalmar, mas a
        
        
          retirada do objeto só seria possível com a ajuda de um marceneiro, pois a lateral
        
        
          da janela teria de ser desmontada.
        
        
          O problema era que o dito marceneiro só seria encontrado na estação
        
        
          final em Pirituba, muito mais longe de onde ela pretendia descer.
        
        
          Sem alternativa, acabou passeando de trem mais do que tinha
        
        
          planejado. Após o "resgate” da bolsinha, tomou o caminho de volta e finalmente
        
        
          pode entregar o documento para sua irmã.
        
        
          -Pôxa, vó! Que falta fazia a internet, né? Era só reimprimir outro
        
        
          boleto! Mas valeu pelo passeio! E valeu pela bolsinha, a qual vou dar uma
        
        
          reformadinha e levá-la comigo para conhecer “outras estações”.
        
        
          Luisa Mendes Mattioli