 
          O vestido de bolinha
        
        
          M
        
        
          inha avó, às vezes, me conta sobre sua infância, pois comparada com
        
        
          a minha, tem muita diferença.
        
        
          Ela morava em uma casa muito simples, com um quintal grande parecido
        
        
          com uma chácara de terra batida, onde plantavam quase tudo que a família precisava
        
        
          para se alimentar. Tinha seis irmãos: Valter, Leonor, Flávio, Wanderlei, Célia e Francisco,
        
        
          seu pai faleceu quando ela tinha apenas um ano e nove meses.
        
        
          Para ir até o pequeno comércio ou vizinhança, ela atravessava uma ponte,
        
        
          pois havia um rio em frente à sua casa o que muitas vezes era diversão para ela e seus
        
        
          irmãos.
        
        
          Estudou no Grupo Escolar Professor José Henrique de Paula e Silva, até o 4º
        
        
          ano, onde ia a pé todos os dias, carregando seu material nas mãos, pois não tinha mala
        
        
          ou mochila. Não usava uniforme, e sim roupas confeccionadas por sua mãe, porque não
        
        
          podiam comprar. Adorava a merenda quando serviam leite com chocolate e pasta de
        
        
          amendoim no pão.
        
        
          Quando tinha sete anos, sua mãe chegou do trabalho com um pacote para
        
        
          cada filho. Esse presente foi muito marcante para minha avó: era um vestido branco com
        
        
          bolinhas verdes e ela ficou tão feliz que foi logo vestindo e saiu dançando para fazer graça
        
        
          a música Bandeira Branca, da cantora Dalva de Oliveira. Depois, minha avó foi brincar no
        
        
          rio, perto de sua casa e se lambuzou toda de lama e na euforia, acabou rasgando a roupa
        
        
          nova. Sua mãe ficou muito brava e a colocou de castigo.
        
        
          De qualquer forma, as brincadeiras eram essas mesmo: tomar banho de
        
        
          chuva, se lambuzar na lama e nadar no rio. Seus brinquedos também eram
        
        
          confeccionados por sua mãe e com restos de tecidos faziam bonecas de pano e bolas de
        
        
          meia.
        
        
          Minha avó só lamenta que sua infância tenha sido curta, pois começou a
        
        
          trabalhar muito cedo para ajudar em casa, mas com carinho guarda recordações e
        
        
          saudades no coração, pois foi muito feliz.
        
        
          Vitor Martins Cruz