O relógio
E
m uma noite fria de domingo, conversando com minha mãe sobre
diversos assuntos, começamos a falar sobre a independência das mulheres. Foi
então que ela me contou um pouco sobre minha avó.
Disse que ela era uma pessoa feliz, meiga, boa e principalmente
muito prestativa, pois sempre pensava em ajudar os outros, antes de pensar em si
própria.
Na década de 60 não era tão comum as mulheres trabalharem em
empresas e minha mãe, com orgulho, disse que minha avó trabalhou numa fábrica
de pneus multinacional, muito conhecida em Santo André.
Começou sua trajetória profissional, com apenas 14 anos para ajudar
nas despesas da casa, mas parte do seu salário ficava com ela para comprar o que
desejasse! E foi assim que ela economizou para presentear sua mãe com um
relógio de ouro, pois sabia que ela o desejava há tempos, mas não podia comprar.
Minha bisavó ficou tão feliz que todos se lembram de que ela não
queria tirá-lo do pulso nem para tomar banho! Aquele pequeno relógio, delicado
e simples fez muita diferença em sua vida, pois era uma forma de se lembrar de
viver bem cada segundo, como uma oportunidade única e que não poderia ser
desperdiçada.
Hoje em dia ele está comigo, mas infelizmente não funciona mais
porque já tem cerca de 52 anos, mas vou guardá-lo como símbolo dessas lições
que aprendi com elas.
Victoria Galante Ruiz