 
          Meu avô e seu amigo Anastácio
        
        
          E
        
        
          m 1960, quando meu avô Luiz tinha dez anos, minha bisavó Palmira saiu
        
        
          pedindo trabalho para ele na feira livre, em São Caetano do Sul. Tempos difíceis... ele era o sexto
        
        
          de oito filhos.
        
        
          Começou como ajudante numa barraca de legumes. Conheceu muitas pessoas e
        
        
          todos o queriam muito bem. Ele começava bem cedinho e trabalhava até às 11 horas. Depois, ia
        
        
          para a escola onde ficava até às 16 horas e, para completar a jornada, trabalhava para uma
        
        
          tinturaria, recolhendo roupas nas casas no início da semana e entregando-as no sábado.
        
        
          Quando completou 16 anos, comprou uma barraca de massas italianas (macarrão)
        
        
          e a compra incluía um caminhão, o qual se tornou tudo para ele. Tinha até nome - batizou-o de
        
        
          Anastácio.
        
        
          Mesmo sem ter a idade exigida, meu avô dirigia o caminhão para carregar as
        
        
          barracas e os produtos da feira, e, ao som de Carlos Gonzaga ,cuidava e tinha muita estima pelo
        
        
          amigo.
        
        
          Meu avô também pode ajudar os irmãos e cunhados que vinham trabalhar com
        
        
          ele nos finais de semana. Trabalhavam em feiras nas cidades de Santo André, São Bernardo do
        
        
          Campo e Diadema.
        
        
          Anastácio dificultou algumas vezes a vida do meu avô, como o dia em pegou fogo
        
        
          bem no portão de casa, quando estavam saindo para a feira, carregados de mercadoria. Seu Luiz
        
        
          não sabia o que fazer, mas claro, chamou os bombeiros e depois do fogo contido, só se via
        
        
          macarrão para todo lado e o Anastácio na oficina.
        
        
          A última travessura do amigo ultrapassou os limites. Meu avô estacionou o
        
        
          caminhão no topo de uma rua inclinada e quando voltou ao local, não estava mais lá. Olhou em
        
        
          direção ao fim da rua e lá embaixo estava ele, atravessado numa loja de moveis. Acabou com
        
        
          tudo o que tinha dentro, mas por sorte não teve que arcar com os prejuízos e também ninguém
        
        
          se machucou.
        
        
          Em meados de 1976, ele teve a oportunidade de entrar em uma empresa grande,
        
        
          vendeu a barraca e um trailer (de uma outra aventura), e com o dinheiro comprou um terreno,
        
        
          construiu uma casa, onde nos reunimos muitas vezes para ouvir esta e muitas outras histórias.
        
        
          Sua vida foi marcada pela barraca na feira e também pelo seu amigo Anastácio
        
        
          que o acompanhavam nas madrugadas da vida.
        
        
          Cauan Luiz Tortele Silva