 
          Melindrosa, mas nem tanto!
        
        
          M
        
        
          inha avó me contou que quando tinha 4 anos, em 1958, sua mãe lhe
        
        
          havia feito um lindo vestido longo de um modelo conhecido na época como
        
        
          “melindrosa”. Com orgulho, seu pai a colocava em cima da mesa para vê-la dançar com a
        
        
          mão na cintura, rebolando com graça a música ¨Pisa na flor¨, de Luiz Gonzaga, enquanto
        
        
          ele sorridente acompanhava com palmas, dizendo que sua filha ainda seria uma linda
        
        
          dançarina.
        
        
          Mas nem tudo era delicadeza com a vovó... alguns anos mais tarde, na fase
        
        
          de brincar de casinha, contava com as amizades de Fátima, Maria José, Inacinha e Lucia,
        
        
          pelo jeito uma turminha da pesada.
        
        
          Certa vez, talvez para impressionar as amigas ou até para tornar a
        
        
          brincadeira mais real,vovó pediu emprestado à sua tia alguns utensílios de cozinha,
        
        
          dentre eles uma panelinha de barro especial para fazer cuscuz e uma outra tigela muito
        
        
          bonita. E lá foram elas mergulhar no mundo do faz de conta, com objetos reais.
        
        
          Ao verem os utensílios tão especiais, a diversão tomou outro rumo e o que
        
        
          era vidro se quebrou, ou melhor, o que era de barro foi espatifado pelas amigas
        
        
          invejosas.
        
        
          Como moravam na zona rural, havia muitas árvores no quintal, dentre elas
        
        
          o marmeleiro o qual deixava à disposição muitos galhos, extremamente úteis para
        
        
          situações de ataque. Vovó pegou o mais próximo e, indignada com a perda, distribuiu
        
        
          ardidas varinhadas.
        
        
          A gritaria das meninas atraiu suas respectivas mães, que em defesa das
        
        
          filhas chorosas foram tirar satisfação com minha bisavó a qual eximindo a agressora de
        
        
          punição, justificou-se dizendo que em breve elas voltariam a ser amigas de novo.
        
        
          Mas, em defesa própria, vovó repetia que bateu nelas por terem quebrado
        
        
          suas panelas e se deixassem, bateria de novo. Ao que uma das meninas com o indicador
        
        
          apontado bradava que se ela trouxesse mais algumas panelas, quebraria todas. Já
        
        
          contida pela mãe, vovó ameaçava “quebra e te dou outra surra!”
        
        
          Sem dúvida, foi uma tarde muito longa.
        
        
          Beatriz Nascimento Guizé