 
          Trem, sol e mar
        
        
          M
        
        
          inha avó nasceu na década de 50 e até seus dez anos, toda a família tinha
        
        
          por tradição uma vez ao ano, durante o período de férias, viajarem para a cidade de Santos, no
        
        
          litoral paulista.
        
        
          Na época eles não tinham carro e a diversão já era garantida assim que saíam de
        
        
          casa, pois desciam a serra de trem, o que dava uma sensação de frio na barriga. Ao chegarem à
        
        
          estação de Paranapiacaba, os vagões eram separados de dois em dois e assim seguiam
        
        
          vagarosamente até Cubatão. Depois, o trem era novamente engatilhado rumo ao destino final, a
        
        
          Estação de Santos. Lá eles ainda pegavam um bonde que os levava até a Praia José Menino, da
        
        
          qual minha avó mais gostava, porque também era a de mais fácil acesso.
        
        
          Naquela época, as pessoas não compravam roupas de banho (maiô para as
        
        
          mulheres e calção para os homens); os mesmos eram alugados em terrenos próximos às praias,
        
        
          onde também alugavam armários, para deixarem os pertences. Nas famosas cabines se
        
        
          trocavam para irem à praia, ao som dos sucessos da época como Carmem Miranda, Orlando
        
        
          Silva e Dalva de Oliveira. No retorno da praia, tomavam banho em chuveiros comunitários para
        
        
          tirar o sal e a areia do corpo.
        
        
          Minha avó me contou que num desses passeios, quando brincavam na água com
        
        
          meu bisavô, a dentadura dele caiu da boca e foi um sufoco danado para pegá-la antes que uma
        
        
          onda a levasse. Dá até pra imaginar a cena...
        
        
          Segundo ela, a praia era deserta e muito limpa, não havia vendedores de comes e
        
        
          bebes como hoje; quem quisesse comer, tinha que ir a restaurantes ou levar de casa. Outras
        
        
          coisas que não havia eram guarda sol, cadeiras e muito menos protetor solar, por isso todos
        
        
          voltavam queimados, vermelhos como pimentões e ficavam uma semana com a pele ardendo.
        
        
          Também não brincavam com brinquedos na areia, o objetivo era mesmo aproveitar o mar, rir,
        
        
          gargalhar e engolir muita água salgada.
        
        
          Antes de voltarem, visitavam a Igreja Nossa Senhora do Monte Serrat, onde
        
        
          subiam mais de 300 degraus. Lugar que, apesar de certa dificuldade, ela faz questão de ir até
        
        
          hoje. Minha avó relata que sua vida era muito humilde, repleta de coisas simples, mas feliz
        
        
          demais no convívio com a família.
        
        
          Alanis Maria Tortele Silva