 
          Viagem para luz
        
        
          Nem ele sabia seu nome, era jovem, mas sua vida de escravo lhe
        
        
          acrescentava anos que ainda não tinha.
        
        
          Seus pais haviam morrido no campo na sua frente, mas nem por isso
        
        
          deixou de todos os dias ter de acordar cedo e ir para o mesmo lugar.
        
        
          O sol escaldante, e, lá estava ele em seu trabalho. Cabisbaixo,
        
        
          pensava nas palavras do seu senhor: “A cana não se corta sozinha”. Era um
        
        
          homem forte e inteligente, desperdiçando talento em trabalho meramente braçal.
        
        
          Aquele dia amanheceu nublado e o jovem escravo pegou seu facão e
        
        
          enquanto se dirigia até a plantação, delirava e imaginava uma voz vinda da luz,
        
        
          uma voz doce, mas com firmeza dizia: Liberdade, Liberdade!
        
        
          Aquilo o fez pensar e se questionar sobre o quê seria preciso para
        
        
          salvar seu povo. Olhou à sua volta e viu a grande casa do senhor, e, mais adiante,
        
        
          viu dois cavaleiros guardando o portão de cargas.
        
        
          Não podia mais esperar. O sol já estava se pondo e todos mais uma
        
        
          vez exaustos por sua vida e seu destino. O jovem aguardava por esse momento há
        
        
          muito tempo. Correu desenfreado, e seguindo seu plano,ateou fogo numa árvore.
        
        
          Escravos correndo para todo o lado, capatazes em pânico, enquanto o portão era
        
        
          aberto à força.
        
        
          Os homens brancos o capturaram e o chicotearam enquanto ele via
        
        
          seu povo sair. Foi amarrado e maltratado, mas entre lágrimas e sorrisos se
        
        
          despedia de todos seus companheiros. Ele nunca questionou seu amor pela terra
        
        
          e por sua gente.
        
        
          Era um homem morto, mas um homem que fez seu povo viajar para a
        
        
          felicidade.
        
        
          Isaac Meneghine