 
          Um dia no estádio
        
        
          Ana é uma menina de olhos muito tristes. Apesar de tentar disfarçar essa tristeza profunda, depois de sua
        
        
          perda, parou de fazer o que mais gostava: jogar futebol, pois para ela não havia mais sentido, uma vez que há um ano seu pai já
        
        
          não estava mais ao seu lado.
        
        
          Com doze anos, num dia que começou aparentemente como de rotina, arrumou-se para ir à escola e já no
        
        
          carro com a mãe, quando estavam quase chegando, é surpreendida com a pergunta:
        
        
          ̶
        
        
          Filha, eu sei o quanto ainda está abalada, mas você sabe que hoje seria o aniversário de seu pai e eu e sua
        
        
          avó pretendemos ir ao cemitério prestar uma homenagem a ele. Você vem conosco?
        
        
          Ana apenas deu um beijo em sua mãe e saiu do carro, sem nada responder.
        
        
          Entrou na sala de aula, sentou-se, pegou o caderno e a professora iniciou a aula apresentando um vídeo.
        
        
          Não demorou muito para o seu pensamento levá-la pra longe.
        
        
          Tudo o que queria era voltar no tempo e ter seu pai ao seu lado.
        
        
          — Filha, acorda nós vamos fazer um passeio hoje!
        
        
          — Papai!— Disse correndo com os braços abertos a encontrá-lo.
        
        
          —Mocinha, se troque e desça, mas não se esqueça de escovar os dentes!
        
        
          Enquanto tomam o café da manhã ele anuncia animado:
        
        
          — Filha, hoje o papai tirou o dia de folga e vamos treinar futebol num campo de verdade! Mas o lugar é
        
        
          surpresa — só vai saber quando chegarmos.
        
        
          Toda animada com a notícia, vai saltitando até o carro e durante a viagem vão cantando suas músicas
        
        
          favoritas. A mãe já ia iniciar outra canção, quando Ana grita:
        
        
          —Mamãe, papai, chegamos!
        
        
          Eles entraram no campo e os olhos de Ana brilharam, era o estádio do Corinthians! Ana nem acreditava no
        
        
          que estava vendo, ela iria treinar com os jogadores do seu time do coração! E ainda por cima,ela iria jogar com o Elias!
        
        
          O tempo passou rápido, como sempre acontece quando estamos fazendo algo que nos deixa feliz e Ana não
        
        
          queria sair do campo nem para comer, aliás, ela não queria mesmo era sair de perto do Elias.
        
        
          Mas o melhor estava por vir— o jogador convidou-os para um lanche e enquanto comiam, Elias lhe deu
        
        
          vários conselhos sobre jogadas e dribles. Retornaram para dar uma última volta no estádio, tiraram fotos, mas para infelicidade
        
        
          de Ana já havia chegado a hora de ir embora, despediram-se com um forte abraço e partiram.
        
        
          Já estavam quase chegando em casa. Ana e seu pai estavam falando bem baixinho, pois a mãe caíra no sono,
        
        
          conversavam ainda sobre os campeonatos e estavam combinando de assistir uma partida no próximo final de semana. Mesmo
        
        
          gostando do assunto, a menina, também esgotada, adormeceu.
        
        
          Ana escutou uma voz ao longe, mas daquela vez não era seu pai e sim sua amiga Lana:
        
        
          — Ana, Ana, você ficou louca de dormir na aula da professora Laura? Ainda bem que ela não percebeu! Ana
        
        
          levantou a cabeça, ainda com sono, esfregou os olhos e só conseguia pensar no quanto amava jogar futebol.
        
        
          Aguentou bravamente até o fim do período, o que para ela foi um milagre. Finalmente o sinal bateu. Saiu
        
        
          rapidamente e quando entrou no carro de sua mãe, disse com firmeza:
        
        
          — Mãe, sobre a pergunta de hoje cedo, eu gostaria de ir com vocês, e além disso, gostaria de te pedir para
        
        
          me rematricular na escolinha de futebol.
        
        
          — Filha, fico muito feliz com isso! Mas não acha que seria um passo grande demais?
        
        
          —Mãe, na verdade, o futebol é o que faz com que eu o sinta mais perto de mim!
        
        
          A mãe de Ana resolveu não questionar, pois seus olhos voltaram a ser alegres e vivos e o sorriso estampado
        
        
          em seu rosto demonstrava que seu pai sempre estará em seu coração e em suas lembranças.
        
        
          Gabriella A. O. Medeiros