 
          A Viagem
        
        
          Outubro de 1965. Os barulhos ensurdecedores das turbinas ecoavam pelos longos corredores do
        
        
          aeroporto. Sam esperava ansiosamente por seu voo para poder reencontrar-se com sua amada que se mudara para
        
        
          Ottawa, no Canadá.
        
        
          Os alto-falantes anunciaram que o seu avião seria o próximo a partir. Entretanto, Sam nem
        
        
          percebeu a primeira chamada, seu corpo estava ali, no aeroporto, porém, sua mente estava em outro lugar,
        
        
          apreciando outra paisagem e não aquele branco frio das paredes daquele local. Sua mente estava focada em
        
        
          Angelina.
        
        
          Ao som da segunda chamada, Sam despertou de seu ‘’transe’’ e seguiu vagarosamente pelos
        
        
          corredores. Ao encontrar o portão 21, não esperou por muito tempo e entrou imediatamente no ônibus que o
        
        
          levaria até o avião. Após cerca de cinco minutos, Sam já se encontrava sentado em sua poltrona de número 13.
        
        
          Número de sorte para uns e azar para outros, especialmente para supersticiosos como Sam.
        
        
          O avião partiu, e a primeira sensação foi de alegria, porém, logo depois, mudou para o medo, pois
        
        
          era a primeira vez que ele viajava de avião.
        
        
          Já nas alturas, apreciava o azul do céu e o branco das nuvens. No entanto, a superstição de azar do
        
        
          número 13 começou a se tornar realidade. Um dos passageiros teve um ataque de pânico. As aeromoças, com muito
        
        
          trabalho, conseguiram contê-lo, e depois de uns 15 minutos o homem se acalmou e voltou ao se lugar. Em sua mão
        
        
          carregava uma foto, já meio borrada e um pouco danificada pelo acontecido. Ficou em sua poltrona apreciando a
        
        
          foto, e sempre que a olhava, chorava. Sam não se conteve, se aproximou do homem para tentar ajudá-lo.
        
        
          Foi então que a vida de Sam mudaria de uma vez por todas, pois o homem, em prantos, e com a
        
        
          voz trêmula e triste, começou a contar a história da foto. A imagem que ele carregava era de uma menina,chamada
        
        
          Lucy, e era sua filha.
        
        
          Foi na primavera do ano de 1953, Lucy brincava com seus colegas de escola, jogavam peteca na rua
        
        
          silenciosa e pouco movimentada, onde morava. Certo dia,um homem de aproximadamente 65 anos parou seu carro
        
        
          luxuoso e ofereceu às crianças doces e guloseimas e disse que quem o acompanhasse iria ganhar um balde cheio de
        
        
          gostosuras. Lucy e alguns de seus amigos aceitaram o convite e tão logo entraram no carro, foram amordaçados e
        
        
          amarrados. Foram transportados até um galpão velho e empoeirado. O odor do lugar era forte e insuportável.
        
        
          Então, o homem de posse das mochilas das crianças, obteve o número de suas casas, onde depois
        
        
          ligaria e pediu 100.000 dólares pelo resgate de cada uma, no prazo de 2 meses.
        
        
          A família de Lucy não tinha todo esse dinheiro. Pediram empréstimo a todas pessoas conhecidas.
        
        
          Mas, mesmo assim, não conseguiram levantar todo o montante. Reunindo todos os esforços, juntaram 60.000
        
        
          dólares. Decidiram entregar essa “parcela” e tentar negociar o restante. O homem, ao receber a quantia menor do
        
        
          que a exigida, ficou furioso. Colérico e impiedoso assassinou Lucy na frente da família.
        
        
          Completaram o restante da viagem em silêncio, talvez meditando sobre a vida e a morte; amor e
        
        
          ódio; justiça e injustiça, dentre outras coisas certamente mais profundas do que o temor do número 13.
        
        
          Ao chegarem à Ottawa, Sam reencontrou sua amada Angelina e o homem se uniu com a triste
        
        
          família, onde fariam muitas homenagens e orações à pequena Lucy.
        
        
          Carlos Massao Okuma